Numa altura marcada por graves turbulências sociais e pela cegueira dos radicalismos políticos, organizações de cinco países europeus – Portugal, Itália, Chipre, Grécia e Eslovénia – juntam-se para reafirmar a necessidade de reforçar a cooperação internacional e a promoção da cidadania global. Nasce assim a ideia de desenvolver o projeto MigratED.
Olhando para o mundo digital, este projeto procura investigar e promover novos instrumentos para a defesa dos direitos humanos e a sensibilização da sociedade em relação à urgência de desarmadilhar a retórica xenófoba que tem acompanhado as crises migratórias dos últimos anos.
Liderado pela GVC, uma ONG italiana que realiza projetos de ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento em comunidades de todo o mundo, o projeto conta com a participação da 4Change e da Universidade Lusófona, enquanto representantes nacionais, e com o envolvimento de: CSAPSA2, Action Aid Grécia, SLOGA, KARPOS e Future Worlds Center.
Segundo Giorgia Bailo coordenadora europeia do projeto, “a migração está no centro do debate público, mas muitas vezes assistimos a declarações tendenciosas, que se baseiam em dados incorretos e preconceitos. Um debate em que os migrantes, refugiados e requerentes de asilo não têm voz.” É necessário criar “uma nova narrativa sobre as migrações, uma renovada consciência sobre as conexões entre desenvolvimento, migrações e direitos humanos.” Para que isso aconteça, os professores e formadores têm um papel muito relevante, sendo fundamental reforçar as suas competências no que diz respeito ao envolvimento dos jovens na construção desta contra-narrativa, através da utilização de ferramentas digitais.
Num contexto altamente afetado por fenómenos de intolerância e respostas irracionais ao tema das migrações, #MigraTed ajuda os jovens a entender as causas subjacentes que levam os refugiados a abandonar seus países, contribuindo para desconstruir estereótipos e promovendo uma redescoberta dos valores da solidariedade e diversidade cultural. Esta experiência culminará com a participação no Terra di tutti Film Festival, um evento anual que, desde 2007, tem usado filmes documentários como uma ferramenta para discutir e sensibilizar para os direitos humanos e questões sociais.
O projeto MigratED, arrancou este ano letivo 2018-2019 em quatro escolas portuguesas – e o primeiro período foi dedicado à ação de sensibilização sobre direitos humanos e as questões migratórias, através da disciplina de “Cidadania e Desenvolvimento” ou no programa de “Flexibilidade Curricular”. Uma das principais ferramentas utilizadas nesta primeira etapa do projeto têm sido a fotografia participativa.
O conceito de fotografia participativa (Photovoice) foi desenvolvido por Caroline Wang e Mary Ann Burris em 1997. Trata-se de uma técnica fotográfica específica em que os participantes capturam as suas realidades quotidianas sob a forma de fotografias. O termo Photovoice encerra em si mesmo a ideia central deste método – dar voz à experiência individual ou coletiva através das fotos. É um método que utiliza um meio excecionalmente poderoso de comunicação – a imagem visual. No contacto com a comunidade é uma ferramenta que capacita e empodera os seus utilizadores, na medida em que são eles que escolhem o que fotografar e quando.
Numa sessão especial, realizada escola EB 2+3 de Paula Vicente, os alunos do 7º ano receberam a visita da fotógrafa Elisabete Faisão, que apresentou o projeto “Hopen”: uma recolha de fotografias e testemunhos, em diversos campos de refugiados na Europa, de Calais às ilhas gregas. A partir de fotografias reais sobre a vivência de refugiados, os alunos de 7º ano realizaram a exposição “Vamos mudar a realidade dos campos dos refugiados”, recriando contextos através de desenhos.
Em paralelo à sensibilização e ao envolvimento dos jovens, o projeto MigratED aposta na capacitação dos educadores. Segundo dados recentes, a maioria dos professores, na Europa, admite ter dificuldades em abordar o tema da tecnologia da informação. Em particular, regista-se uma grave lacuna no acesso às ferramentas digitais, nas escolas, o que pode ser um obstáculo para a adoção de modelos didáticos novos e mais eficientes. Por esta razão, além de querer aprofundar as interdependências do conceito cidadania global com os temas da atualidade, o projeto MigratED – como demonstra um workshop realizado em janeiro, em Bolonha, que reuniu professores e formadores dos cinco países participantes – pretende contribuir para uma maior utilização das ferramentas de comunicação digital no ensino, reconhecendo o seu potencial de atração dos jovens.